O Império de Mira-Celi contém alguns milhares de reinos.
Ela com os dedos entrelaçados abarca a esfera ao meio;
e de ponta a ponta os mares e as cordilheiras
prestam obediência ao seu mundo,
que começa onde o dedo mínimo da deusa
toca a mais íntima de suas constelações.
Nesse imenso anfiteatro
assenta o Império de Mira-Celi, centro de novas órbitas.
Da linha do horizonte nasce para ser ouvida a voz que, depois do dilúvio,
recomenda a paz entre os homens.
O roteiro dos descobridores deixa de ser pelas Índias
ou pelos cabos povoados de gentios ou de monstros.
Os poetas assinalados dominam as hostes dos régulos e dos ditadores.
Não existem espíritos de coloração desigual,
nem geografias que possuam direitos sobre as demais geografias.
O mais anônimo ser recebe por inoculação misteriosa
uma tônica, repercutida dentro de cada espírito, como um acorde de harpa.
Mira-Celi mandou construir caravelas;
deu um mar a cada poeta;
mandou gravar em cada pala de blusa um cavalo marinho.
Estai alerta, que Mira-Celi aparece para combater
tudo que intercepte os homens de contemplar seu rosto.
COUTINHO, Afrânio (org.). Jorge de Lima. Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1958, vol. I. p.511.