A IARA

Vive dentro de mim, como num rio,

Uma linda mulher, esquiva e rara,

Num borbulhar de argênteos flocos, Iara

De cabeleira de ouro e corpo frio.

Entre as ninféias a namoro e espio:

E ela, do espelho móbil da onda clara,

Com os verdes olhos úmidos me encara,

E oferece-me o seio alvo e macio.

Precipito-me, no ímpeto de esposo,

Na desesperação da glória suma,

Para a estreitar, louco de orgulho e gozo...

Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:

E a mãe-d'água, exalando um ai piedoso,

Desfaz-se em mortas pérolas de espuma.

BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 23ª edição. 1964, p.290.

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