A POESIA

Donzela! vem que é noite e a lua já derrama

Do céu azul, profundo, o pálido clarão!

A brisa a ciciara parece que te chama

A gozar junto a mim o amor na solidão!

Oh! vem – tudo é silêncio e apenas o regato

Serpeia argênteo além, sentido a murmurar!

Dilata a flor o seio e geme lá no mato

O triste noitibó, que esquiva-se ao luar!

Que doce aroma expira a flor da guabiroba!

Não tardes! vem, febril, cair nos braços meus

Quando sinto o estalar das ramas da pindoba,

Logo imagino o som dos breves passos teus!

Vem doce noiva minha! a natureza é quieta!

É solitário o campo e longe o mundo é!...

Mas que donzela é essa, oh! pálido poeta -

Por quem deliras tanto e em que tu'alma crê?!

Quem é! Fada gentil, que embala-me os sentidos

Com perfumes na aurora e à noite co'harmonia,

Que traz a luz até na fímbria dos vestidos,

Que é sempre moça e loura, e chama-se Poesia!

CORREIA, Raimundo. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1961, p.41.

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