AS PALAVRAS RESSUSCITARÃO

As palavras envelheceram dentro dos homens

separadas em ilhas,

as palavras se mumificaram na boca dos legisladores;

as palavras apodreceram nas promessas dos tiranos;

as palavras nada significam nos discursos dos homens públicos.

E o Verbo de Deus é uno mesmo com a profanação dos homens de Babel,

mesmo com a profanação dos homens de hoje.

E, por acaso, a palavra imortal há de adoecer?

E, por caso, as grandes palavras semitas podem desaparecer?

E, por acaso, o poeta não foi designado para vivificar a palavra de novo?

Para colhê-la de cima das águas e oferecê-la outra vez aos homens do continente?

E, não foi ele apontado para restituir-lhe a sua essência,

e reconstituir seu conteúdo mágico?

Acaso o poeta não prevê a comunhão das línguas,

quando o homem reconquistar os atributos perdidos com a Queda,

e quando se desfizerem as nações instaladas ao depois de Babel?

Quando toda a confusão for desfeita,

o poeta não falará, do ponto em que se encontrar,

a todos os homens da terra, numa só língua — a linguagem do Espírito?

Se por acaso viveis mergulhados no momento e no limite,

não me compreendereis, irmão!

COUTINHO, Afrânio (org.). Jorge de Lima. Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1958, vol. I. p.467-468.

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