A UM POETA

Poeta da rua, vais... E, à tua frente,

teus sonhos, tuas ilusões douradas

vão como as folhas mortas: tristemente,

sobre o dorso veloz das enxurradas.

Quando sobe, redonda e transparente,

a lua subterrânea das baladas,

tua sombra te segue mudamente,

conspirando contigo nas calçadas...

Se, erguendo os braços, o teu vulto atira

um gesto à glória, na ânsia de alcança-la,

teu corpo toma a forma de uma lira!

Se a glória desce e, bêbedo de luz,

abres os braços, na ânsia de abraçá-la,

teu corpo toma a forma de uma cruz!

ALMEIDA, Guilherme de. Meus versos mais queridos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1988. p. 33.

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