BEIJO PÓSTUMO

Do meu primeiro amor, ei-lo, o tempo em ruína!

No estômago da morte, atro e voraginoso,

Essa carne ideal, deliciosa e fina,

Caiu como um manjar fino e delicioso!

E antes que tudo venha a supurar em flores,

Sob o pudor da morte os membros seus inermes

Têm de ser fatalmente o pábulo dos vermes

Frios e roedores...

E o beijo que pedi e ela jamais me deu,

que em vida quis colher e nunca foi colhido,

Caiu do seu lábio como um fruto apodrecido...

Ó beijo virginal! fruto que apodreceu!

CORREIA, Raimundo. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1961, p.142.

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