BOI MORTO

Como em turvas águas de enchente,

Me sinto a meio submergido

Entre destroços do presente

Dividido, subdividido,

Onde rola, enorme, o boi morto.

Boi morto, boi morto, boi morto.

Árvores da paisagem calma,

Convosco – altas, tão marginais! –

Fica a alma, a atônita alma,

Atônita para jamais.

Que o corpo, esse vai com o boi morto.

Boi morto, boi morto, boi morto.

Boi morto, boi descomedido,

Boi espantosamente, boi

Morto, sem forma ou sentido

Ou significado. O que foi

Ninguém sabe. Agora é boi morto.

Boi morto, boi morto, boi morto!

BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Cia. José Aguilar, 1967, p.349.

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