Deste touro de vime, construção de Maiorca,
Só resta a cabeça, e manda.
Conduzido por fenícios e cartagineses
O touro veio de antigas terras trabalhadas.
Primeiro foi celtíbero, hoje é espanhol.
Entre ele e o homem subsiste
A secreta conivência do rito.
Agora fixou-se na parede,
Tornado conciso
Por um artesão geômetra
O espanhol acredita nele, mata-o dançando
No tempo de sonho da arena.
Quem o mataria acordado?
MELO Neto, João Cabral de (org.). Murilo Mendes - Antologia Poética. Brasília: INL, 1976, p. 130.