ELEGIA DE TAORMINA

A dupla profundidade do azul

Sonda o limite dos jardins

E descendo até a terra o transpõe.

Ao horizonte da mão ter o Etna

Considerado das ruínas do teatro grego,

Descansa.

Ninguém recebe conscientemente

O carisma do azul.

Ninguém esgota o azul e seus enigmas.

Armados pela história, pelo século,

Aguardando o desenlace do azul, o desfecho da bomba,

Nunca mais distinguiremos

Beleza e morte limítrofes.

Nem mesmo debruçados sobre o mar de Taormina.

Ó intolerável beleza,

Ó pérfido diamante,

Ninguém, depois da iniciação, dura

No teu centro de luzes contrárias.

Sob o signo trágico vivemos,

Mesmo quando na alegria

O pão e o vinho se levantam.

Ó intolerável beleza

Que sem a morte se oculta.

MELO Neto, João Cabral de (org.). Murilo Mendes - Antologia Poética. Brasília: INL, 1976, p. 126-127.

Previous Next