ESSA QUE EU HEI DE AMAR...

Essa que eu hei de amar perdidamente um dia

serão tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,

que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,

trazer luz e calor a esta alma escura e fria.

E, quando ela passar, tudo o que eu não sentia

da vida há de acordar no coração, que vela...

E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela

como sombra feliz... – tudo isso eu me dizia,

quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,

e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro

do poente, me dizia adeus, como um sol triste...

E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado,

mas ias tão perdido em teu sonho dourado,

meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!"

ALMEIDA, Guilherme de. Meus versos mais queridos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1988. p. 28.

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