Euclides da Cunha

(1866-1909)

DADOS BIOGRÁFICOS

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo, município do Rio de Janeiro, em 1866. Aos três anos de idade ficou órfão de mãe, sendo então criado pelas tias na Bahia. Mais tarde, no Rio, estudou na Escola Politécnica, de onde, aos vinte anos, se transferiu para a Escola Militar, tornando-se conhecido pelo ardor republicano. Em 1888, por desacato ao Ministro da Guerra, foi expulso dessa Escola. Após a proclamação da República, retornou à carreira militar, formando-se em Engenharia Militar e Ciências Naturais. Em 1896, descontente com o rumo tomado pela República, rompeu definitivamente com o exército, estabelecendo-se em São Paulo. Como repórter do jornal "O Estado de São Paulo", fez a cobertura da Campanha de Canudos, obtendo então vasto material com que elaboraria sua grande obra. Desligado do jornal foi contratado para planejar uma nova ponte em São José do Rio Pardo, onde escreve Os Sertões, publicado em 1902. Regressando ao Rio, ensina Lógica no Colégio Pedro II. Pouco tempo depois morreu baleado na Estação de Piedade, subúrbio do Rio, onde residia. Além de Os Sertões, deixou estudos importantes que revelam seu conhecimento e amor pelas coisas do Brasil.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

Os Sertões [ver Antologia],obra monumental de Euclides da Cunha, dá início ao que se chama de Pré-Modernismo na literatura brasileira, revelando, às vezes com crueldade e certo pessimismo, o contraste cultural nos dois "Brasis": o do sertão e o do litoral. A transição de valores tradicionais para modernos está na denúncia que faz da realidade brasileira, até então acostumada a retratar um Peri, uma Iracema, um gaúcho, ícones do nosso Romantismo. Evidencia, pela primeira vez em nossa literatura, os traços e condições reais do sertanejo, do jagunço; "a sub-raça" que habita o nordeste brasileiro; o herói determinista que resiste à tragédia de seu destino, disfarçando de resignação o desespero diante da fatalidade.

Euclides critica o nacionalismo exacerbado da população litorânea que, não enxergando a realidade daquela sociedade mestiça, produzida pelo deserto, agiu às cegas e ferozmente, cometendo um crime contra si própria; o que é o grande tema de Os Sertões. Em tom crítico, também mostra o que séculos de atraso e miséria, em uma região separada geográfica e temporalmente do resto do país, são capazes de produzir: um líder fanático e o delírio coletivo de uma população conformada.

Terra, Homem e Luta, como divisão da narrativa, adotada por Euclides da Cunha, correspondem ao determinismo histórico e geográfico de Taine: meio, raça e momento histórico. Apesar disso, Euclides deve ser considerado pré-modernista pela relevância do assunto tratado. A descrição minuciosa das condições geográficas e climáticas do sertão, de sua formação social: o sertanejo, o jagunço, o líder espiritual, e do conflito entre essa sociedade e a urbana, mostra-nos um Euclides cientificista, historicista e naturalista que rompe com o imperialismo literário da época e inicia uma análise científica em prol dos aspectos mais importantes da sociedade brasileira.

Essa ruptura de visão de mundo gera também um rompimento no plano lingüístico. A objetividade científica na abordagem de um problema leva o autor a buscar termos precisos e, nesta escolha, sua linguagem torna-se especializada e, por isso, às vezes difícil, mas que se justifica pelo objetivo de tornar exata a comunicação das idéias.

PRINCIPAIS OBRAS

Romance

Os Sertões (1902).

Ensaios

Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus (1906); Peru versus Bolívia (1907); Contrastes e Confrontos (1907).

Conferência

Castro Alves e seu Tempo (1907).

Publicações Póstumas

Ensaios

À Margem da História (1909).

Cartas

Cartas de Euclides da Cunha a Machado de Assis (coligido por Renato Travassos) (1931); Euclides da Cunha e seus Amigos (Epistolário - coligido por Francisco Venâncio Filho) (1938).

Diário

Canudos - Diário de uma Expedição (1939); Canudos e Inéditos (introdução e notas de Olympio de Souza Andrade) (1967); Caderneta de Campo (introdução e notas de Olympio de Souza Andrade) (1975).

Ver também:

Resumos

Antologia

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