EU SOU TREZENTOS...

(7-VI-1929)

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,

As sensações renascem de si mesmas sem repouso,

Ôh espelhos, ôh! Pireneus! ôh caiçaras!

si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as milhores palavras,

E os suspiros que dou são violinos alheios;

Eu piso a terra como quem descobre a furto

Nas esquinas, nos taxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,

mas um dia afinal eu toparei comigo...

Tenhamos paciência, andorinhas curtas,

Só o esquecimento é que condensa,

E então minha alma servirá de abrigo.

ANDRADE, Mário de. Poesias Completas. São Paulo: Martins Editora, 1955. p. 221.

Previous Next