Monteiro Lobato

(1882-1948)

DADOS BIOGRÁFICOS

José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, em 1882. Após estudos nos estabelecimentos de sua terra natal, rumou para São Paulo, onde estudou Direito. Na Faculdade do Largo São Francisco, fez parte do grupo literário Minarete, e também iniciou suas atividades junto à imprensa. Após algum tempo na promotoria de Areias, pequena cidade paulista do Vale do Paraíba, passou a se dedicar à agricultura, graças à fazenda herdada do avô em 1911.

A publicação de "Velha Praga", no O Estado de São Paulo, uma indignação contra as constantes queimadas no campo, provocou grande polêmica, estimulando Lobato a escrever outros artigos. A criação do personagem Jeca Tatu é dessa época.Vendeu, em seguida, sua propriedade e se estabeleceu em São Paulo, onde publicou seu primeiro livro, Urupês. Adquiriu a "Revista do Brasil" e fundou a "Monteiro Lobato & Cia.", a primeira editora nacional, que mais tarde se tornaria na Companhia Editora Nacional.

Como adido comercial, morou em Nova Iorque, de 1927 a 1931. Ao regressar, entusiasmado com a exploração dos recursos minerais e o progresso dos Estados Unidos, empenhou-se na campanha dos nossos recursos, fundando o Sindicato do Ferro e a Cia. de Petróleos do Brasil, o que provocou ira nas multinacionais e certo mal-estar no Governo. Desse período resulta o livro-denúncia O Escândalo do Petróleo e alguns meses de prisão para o autor. Exilou-se voluntariamente em Buenos Aires por algum tempo, de onde escrevia para jornais brasileiros e argentinos.Morreu quase repentinamente em São Paulo, em 1948.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

Dois traços caracterizam Monteiro Lobato como pré-modernista: o regionalismo e a denúncia dos contrastes, mazelas e desigualdades na sociedade oligárquica brasileira da Primeira República. Como regionalista, ele nos mostra o Brasil rural, mais especificamente o do Vale do Paraíba, no interior do estado de São Paulo, do início do século XX, revelando, em tons satíricos, sentimentais, irônicos e patéticos seus costumes, sua gente e sua decadência, após o período áureo da economia cafeeira.

No conto Urupês [ver Antologia], parte da obra com o mesmo título, Lobato faz a caricatura do caboclo vagabundo e indolente, Jeca Tatu, que representa o homem típico das regiões interioranas brasileiras. É o caipira que, marginalizado social e historicamente, não tem direito à educação; é subnutrido e sujeito a todo tipo de doenças. Denuncia também o infortúnio de outro marginal brasileiro: o negro e a situação que este enfrenta após a abolição. Na sua prosa, onde já se anuncia o modernismo pelo estilo oral e uso de expressões típicas da fala sertaneja, nota-se a preocupação do autor em incorporar diferentes níveis de linguagem à literatura.

Preocupado com o desenvolvimento social e mental do povo, é um ávido divulgador da ciência e do progresso do mundo moderno. Se, por um lado, seu nacionalismo colocá-o na vanguarda do modernismo, a nota moralista, didática e doutrinária na sua prosa, por outro, afastá-o do modernismo de 22.

Enquanto ideologicamente é extremamente moderno, formalmente, preocupa-se com a objetividade da narração e o "vernaculismo camiliano" - preocupações formais de caráter naturalistas e parnasianas. Essa ambivalência moderno e antimoderno divide o pensamento e a arte de Lobato que, no plano puramente estético, assume posições antimodernistas, reveladas no seu artigo sobre a exposição de Anita Malfatti em 1917.

A inclinação para a militância nacionalista se acentua no decorrer de sua produção literária. Segundo Bosi, após as narrativas iniciais, seguiram-se "livros de ficção científica à Orwel e à Huxley de polêmica econômica e social" que desaguariam na sua literatura infantil, na qual se fundem o fantasioso e o pedagógico.

Em dezenas de livros, Lobato produziu uma vasta e original literatura infanto-juvenil, em que estão presentes o caráter moralista e doutrinário e sua luta pelos interesses da nação.

Num mundo de fantasia cria o sítio do Pica-pau Amarelo, onde a boneca Emília fala, pensa e age como gente grande e um sabugo de milho vira Visconde de Sabugosa. Nesse prolífero universo mágico, uma espécie de metáfora do Brasil, é narrado todo um ciclo de aventuras em que seus personagens representam, de certa forma, as várias facetas e problemas do povo brasileiro. Por exemplo, em O Poço do Visconde, ficção e realidade se misturam em torno do problema do petróleo brasileiro.

PRINCIPAIS OBRAS

Contos

Urupês (1918); Cidades Mortas (1919); Negrinha (1920).

Romance

O Presidente Negro ou O Choque das Raças (1926).

Literatura de ação, didática e polêmica

Idéias de Jeca Tatu (1919); A Onda Verde (1921); Mundo da Lua ((1923); O Macaco que se Fez Homem (1923); Mr. Slang e o Brasil (1929); Ferro (1931); América (1932); Na Antevéspera (1933); O Escândalo do Petróleo (1936); A Barca de Gleyre (1944). (Nas Obras Completas, 1ª série, Ed. Brasiliense, 1946, além dos títulos acima, foram publicados: Problema Vital, Miscelânea, Prefácios e Entrevistas).

Literatura Infantil

Nas Reinações de Narizinho; Viagem ao Céu e o Saci; Caçadas de Pedrinho e Hans Staden; História do Mundo para Crianças; Memórias da Emília e Peter Pan; Emília no País da Gramática e Aritmética da Emília; Geografia de Dona Benta; Serões de Dona Benta e Histórias das Invenções; D. Quixote para as Crianças; O Poço do Visconde; Histórias de Tia Nastácia; O Pica-pau Amarelo e a Reforma da Natureza; O Minotauro; Fábulas e Os Doze trabalhos de Hércules. (Literatura Infantil, Obras Completas. 2ª série, 2 vols, Ed. Brasiliense, 1950).

Ver também:

Resumos

Antologia

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