(A um comedor exagerado)
Levou um livreiro a dente
De alfaces todo um canteiro,
E comeu, sendo livreiro,
Desencadernadamente.
Porém eu digo que mente
A quem disso o quer tachar:
Antes é para notar
Que trabalhou como mouro,
Pois meter folhas no couro
Também é encadernar.
(A um músico esbordoado)
Uma grave entonação
Vos cantaram, Brás Luís,
Segundo se conta e diz,
Por solfa de fabordão.
Pelo compasso da mão,
Onde a valia se apura,
Parecia solfa escura:
Porque a mão nunca parava,
Nem no ar, nem no chão dava,
Sempre em cima da figura.
MATOS, Gregório de. Obras Completas. 2ª ed. t.II. São Paulo: Edições Cultura, 1945. Série Clássica Brasileiro-Portuguesa, "Os mestres da língua", t.II, p.320, "Epigramas" III