SONETO

Onde estou! Este sítio desconheço:

Quem fez tão diferente aquele prado!

Tudo outra natureza tem tomado;

E em contemplá-lo tímido esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço

De estar a ela um dia reclinado:

Ali em vale um monte está mudado:

Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,

Que faziam perpétua a primavera:

Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era:

Mas que venho a estranhar, se estão presentes

Meus males, com que tudo degenera!

COSTA, Cláudio Manuel da. Obras Poéticas. Nova edição, contendo reimpressão do que deixou inédito ou ainda esparso, um estudo sobre sua vida e obras por João Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras. t.I: Sonetos, Éclogas, Epístolas, Fábula e Epicédio. Rio de Janeiro, H. Garnier- Editor, 1903. t.I, p. 106.

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