SONETO LÍRICO

Quem viu mal como o meu, sem meio ativo?

Pois no que me sustenta e me maltrata,

É fero quando a morte me dilata,

Quando a Vida me tira é compassivo!

Oh! do meu padecer algo motivo!

Mas oh! do meu martírio pena ingrata!

Uma vez inconstante, pois me mata;

Muitas vezes cruel, pois me tem vivo!

Já não há, não, remédio, confianças;

Que a Morte a destruir não tem alentos,

Quando a Vida em penar não tem mudanças:

E quer meu mal, dobrando os meus tormentos

Que esteja morto para as esperanças,

E que ande vivo para os sentimentos.

MATOS, Gregório de. Obras Completas. 2ª ed. t.I. São Paulo: Edições Cultura, 1945. Série Clássica Brasileiro-Portuguesa, "Os mestres da língua", t.I, p.78, "Epigramas"III

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