SONETO XVIII

Aquela cinta azul, que o Céu estende

À nossa mão esquerda; aquele grito

Com que está toda a noite o corvo aflito

Dizendo um não sei quê, que não se entende:

Levantar-me de um sonho, quando atende

O meu ouvido um mísero conflito,

A tempo que um voraz lobo maldito

A minha ovelha mais mimosa ofende;

Encontrar a dormir tão preguiçoso

Melampo, o meu fiel, que na manada

Sempre desperto está, sempre ansioso;

Ah! queira Deus que minta a sorte irada:

Mas de tão triste agouro cuidadoso

Só me lembro de Nize, e de mais nada.

COSTA, Cláudio Manuel da. Obras Poéticas. Nova edição, contendo reimpressão do que deixou inédito ou ainda esparso, um estudo sobre sua vida e obras por João Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras. t.I: Sonetos, Éclogas, Epístolas, Fábula e Epicédio. Rio de Janeiro, H. Garnier- Editor, 1903. t.I, p. 111.

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