Aquela cinta azul, que o Céu estende
À nossa mão esquerda; aquele grito
Com que está toda a noite o corvo aflito
Dizendo um não sei quê, que não se entende:
Levantar-me de um sonho, quando atende
O meu ouvido um mísero conflito,
A tempo que um voraz lobo maldito
A minha ovelha mais mimosa ofende;
Encontrar a dormir tão preguiçoso
Melampo, o meu fiel, que na manada
Sempre desperto está, sempre ansioso;
Ah! queira Deus que minta a sorte irada:
Mas de tão triste agouro cuidadoso
Só me lembro de Nize, e de mais nada.
COSTA, Cláudio Manuel da. Obras Poéticas. Nova edição, contendo reimpressão do que deixou inédito ou ainda esparso, um estudo sobre sua vida e obras por João Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras. t.I: Sonetos, Éclogas, Epístolas, Fábula e Epicédio. Rio de Janeiro, H. Garnier- Editor, 1903. t.I, p. 111.