MiniGramática

A concordância e o predicativo do objeto de alguns verbos

Alguns verbos da língua portuguesa exigem complementos. São os chamados verbos transitivos, cujos complementos podem vir acompanhados de preposição (objeto indireto) ou ser diretamente relacionados ao verbo (objeto direto).

Esses complementos verbais podem sofrer modificações de duas naturezas: uma que é própria ao objeto (adjunto adnominal) e outra que é imposta pelo verbo (predicativo do objeto). Isso quer dizer que, associados a um mesmo verbo, podem ocorrer dois termos da oração: um objeto e um predicativo.

O predicativo do objeto geralmente se vincula aos verbos transitivos diretos, atribuindo uma propriedade ao seu complemento verbal. No entanto, em uma mesma oração podem co-ocorrer um adjunto adnominal e um predicativo do objeto, confundindo a aplicação da concordância adequada entre esses elementos sintáticos. Trata-se de duas etapas de concordância nominal distintas: uma que relaciona o adjunto adnominal ao objeto e a segunda que associa o predicativo ao seu objeto. Vejamos sentenças com os dois termos sintáticos separados:

  1. A lua transforma a noite dos namorados.

    ...[transforma: verbo transitivo direto]

    ...[a noite: objeto direto]

    ...[dos namorados: adjunto adnominal = atributo de "noite" livremente apontado]

  1. A lua torna a noite iluminada.

    ...[torna: verbo transitivo direto]

    ...[a noite: objeto direto]

    ...[iluminada: predicativo do objeto = atributo de "noite" imposto pelo verbo]

O predicativo do objeto sempre concorda em gênero e número com o termo (o objeto) ao qual se liga, mesmo que junto ao seu objeto haja um adjunto adnominal associado. Exemplo:

  1. "A lua torna a noite iluminada dos namorados."

    ...[iluminada: predicativo do objeto direto "noite"]

A posição do predicativo do objeto não é fixa na oração. Ele pode:

  1. anteceder o objeto Þ "... torna iluminada a noite dos namorados."
  2. proceder imediatamente ao objeto Þ "... torna a noite iluminada dos namorados."
  3. vir ao final do adjunto adnominal Þ "... torna a noite dos namorados iluminada."

A confusão na concordância que se observa freqüentemente acontece quando o predicativo está na posição (3) apontada acima, pois o raciocínio mais cômodo faria concordar o predicativo com a última palavra que o antecede. É importante lembrar, porém, que mesmo distante o predicativo deve manter a concordância com o objeto que é a sua referência na oração.

Exemplos:

  1. A academia consagrou os trabalhos de biologia pioneira. [Inadequado]

    A academia consagrou os trabalhos de biologia pioneiros. [Adequado]

    ...[os trabalhos: objeto direto = masculino plural]

    ...[de biologia: adjunto adnominal]

    ...[pioneiros: predicativo do objeto = masculino plural]

  2. A paz manteria a bandeira do Brasil vivo. [Inadequado]

    A paz manteria a bandeira do Brasil viva. [Adequado]

    ...[a bandeira: objeto direto = feminino singular]

    ...[do Brasil: adjunto adnominal]

    ...[viva: predicativo do objeto = feminino singular]

Note que em certas situações apenas a concordância é que deixará claro o termo que está sendo modificado, pois um adjetivo como no exemplo (2) pode se aplicar tanto ao objeto (no exemplo,"bandeira") como ao núcleo do adjunto adnominal (no exemplo, "Brasil"). É facultativo ao ouvinte/leitor, portanto, compreender a oração da forma como ele preferir se a concordância não esclarece os termos que estão relacionados na oração.

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