DEUS

Um Deus (diz), um Tupá, um ser possante

Quem poderá negar que reja o mundo,

Ou vendo a nuvem fulminar tonante,

Ou vendo enfurecer-se o mar profundo?

Quem enche o céu de tanta luz brilhante?

Quem borda a terra de um matiz fecundo?

E aquela sala azul, vasta, infinita,

Se não está lá Tupá, que é que a habita?

A chuva, a neve, o vento, a tempestade,

Quem a rege? a quem segue? ou quem a move?

Quem nos derrama a bela claridade?

Quem tantas trevas sobre o mundo chove?

E este espírito amante da verdade,

Inimigo do mal, que o bem promove,

Coisa tão grande, como fora obrada?

Se não lhe dera o ser, quem vence o nada?

Quem seja este grande Ente e qual seu nome,

(Feliz quem saber pode) Eu cego o ignoro;

E sem que a empresa de sabê-lo tome,

Sei que é quem tudo faz, e humilde o adoro:

Nem duvido que os céus e terras dome,

Quando nas nuvens com terror o exploro,

Deixando o mortal peito em vil desmaio

Ameaçar no trovão, punir no raio.

DURÃO, Santa Rita. Nossos Clássicos. n. 13 ["Caramuru", poema épico do descobrimento da Bahia, por Hernani Cidade]. Rio de Janeiro: Agir, 1957, p.63.

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