Iam vinte anos desde aquele dia,
Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quanto, em visão, com os da saudade via.
Corto pelo caminho agro e deserto
Que, em chegando ao Pinhão, foge à direita
E um teso alcança de indaiás coberto.
Larga inda há pouco, a estrada, agora estreita
Sobe, inclina depois, até que em plano
Imenso, imensa e toda igual se deita.
Eu a sofreguidão, febril e insano
Desejo de chegar, com lhe ir à beira
As flores vendo mil e mil, engano.
Ora as ostenta azuis a trepadeira,
Ora brancas o lírio, ora encarnadas
A maravilha. E a estrada cheira, cheira...
Curto prazo, de um bosque entre as latadas
Fujo ao fervor do sol e cismo absorto
Em tantas cousas que se vão passadas
E eu vou tornar a ver... como, o conforto
Das águas pátrias relembrando, a vela
Torna algum dia ao desejado porto
E o vê mudado e sem lembrança dela.
OLIVEIRA, Alberto de. Poesias. In: Nossos Clássicos. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1959, p.68-69.