MADRIGAL

I

Suave fonte pura,

Que desces murmurando sobre a areia,

Eu sei que a linda Glaura se recreia

Vendo em ti dos seus olhos a ternura;

Ela já te procura;

Ah! como vem formosa e sem desgosto!

Não lhe pintes o rosto:

Pinta-lhe, ó clara fonte, por piedade,

Meu terno amor, minha infeliz saudade.

ALVARENGA, Silva. Graura. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943, p.217.

XV

No ramo da mangueira venturosa

Triste emblema de amor gravei um dia,

E às Dríades saudoso oferecia

Os brandos lírios, e a purpúrea rosa.

Então Glaura mimosa

Chega do verde tronco ao doce abrigo...

Encontra-se comigo...

Perturbada suspira, e cobre o rosto.

Entre esperança e gosto

Deixo lírios, e rosas... deito tudo;

Mas ela foge (Ó Céus!) e eu fico mudo.

ALVARENGA, Silva. Graura. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943, p.224.

XXIV

Não desprezes, ó Glaura, entre estas flores,

Com que os prados matiza a bela Flora,

O Jambo, que os Amores

Colheram ao surgir a branca aurora.

A Dríade suspira, geme e chora

Aflita e desgraçada.

Ela foi despojada... os ais lhe escuto...

Verás neste tributo,

Que por sorte feliz nasceu primeiro,

Ou fruto que roubou da rosa o cheiro,

Ou rosa transformada em doce fruto.

ALVARENGA, Silva. Graura. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943, p.231.

Previous Next