O DEUS-VERME

Fator universal do transformismo.

Filho da teleológica matéria,

na superabundância ou na miséria,

Verme – é o seu nome obscuro de batismo.

Jamais emprega o acérrimo exorcismo

Em sua diária ocupação funérea,

E vive em contubérnio com a bactéria,

Livre das roupas do antropomorfismo.

Almoça a podridão das drupas agras,

Janta hidrópicos, rói vísceras magras

E dos defuntos novos incha a mão...

Ah! Para ele é que a carne podre fica,

E no inventário da matéria rica

Cabe aos seus filhos a maior porção!

ANJOS, Augusto dos. Eu & Outros Poesias. V.1. Rio de Janeiro: Civilização/Itatiaia, 1982, p.59.

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