Pálida, pálida, revolto
Em ondas o basto cabelo,
O triste olhar como que solto
Do fundo de algum pesadelo...
Pálida, lívida talvez,
Desse palor que a Alma nos corta,
A macerada, a ebúrnea tez
Menos de viva que de morta...
Pálida... vi-te assim. Andando
De uma sonâmbula tu tinhas
O incerto passo miserando
E a fronte erguida das Rainhas...
Oh pálida... pálida... A cor
De Maria cheia de graça,
Vendo agoniar o Redentor,
Não era assim tão branca e baça...
Pálida... mas em que tragédia
Vi uma figura igual à tua?
Que monja ideal da Idade Média
Tinha essa lividez de lua?
Pálida... vi-te, oh! vi-te assim.
Do sol-das-almas o desmaio
Último vinha: era no fim
De uma tarde triste de maio...
GUIMARÃES, Alphonsus de. Obra Completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960, 110.