PAISAGEM SUBMARINA

No antro submarino, onde os pólipos têm

qualquer coisa de humano em seu mistério e são

galhos de sangue aí chorado por alguém

que naufragou depois de haver lutado em vão;

nesse mundo ignorado, ou nessa escuridão

que é toda azul por fora e só monstros contém

é que irei enterrar o meu único bem...

Náufrago – devo estar onde os outros estão.

Bem que é meu, ficará guardado onde só eu

o saiba, como alguém que, fugindo a um ladrão,

se tornou o ladrão daquilo que já é seu.

Estarei nesse caso? Ah! quanta gente que,

pra esconder o seu bem, busca o escuro e não vê

que uma estrela reluz melhor na escuridão...

BRAGA, Rubem (org.) Cassiano Ricardo - Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964, p.14.

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