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O que são (2): múltiplas raízes

Uma definição mais precisa seria a seguinte: é chamada composta toda palavra em cuja formação há duas ou mais raízes distintas. O conceito de raiz, infelizmente, não é dos mais fáceis, nem entre os especialistas; e poderíamos passar aqui muito bem sem ele não fosse o fato de algumas palavras do grego e do latim, que nunca aparecem isoladas em português, também contarem tradicionalmente como possíveis constituintes de palavras compostas. Como essas palavras gregas e latinas não sejam propriamente da nossa língua, o conceito de raiz é bastante oportuno, porque consegue fatorar uma característica comum: as palavras simples do português, do latim, do grego e de qualquer outra língua possuem apenas e exatamente uma raiz. Daí, se certa palavra do português for formada por uma combinação qualquer de palavras de origens variadas, ainda assim terá mais de uma raiz e poderá propriamente ser chamada composta.

Retomando o exemplo "socioeconômico", podem-se perceber aí não apenas duas, mas três, raízes distintas, a saber: 

  1. uma em comum com as palavras "sócio", "social" e até "sociedade" (resolvendo ou evitando qualquer disputa sobre quem vem de quem afinal de contas), a qual poderíamos representar simplificadamente como {soci}; e
  2. outras duas raízes gregas ({ec} e {nom}) em comum com "economia" e "econômico", já compostos, portanto.

São chamados eruditos os compostos em que pelo menos uma raiz é combinada diretamente com outros radicais (provavelmente outras raízes), possivelmente por meio de vogais de ligação ou temáticas, formando um radical composto. Apesar do nome pomposo, há diversos compostos eruditos em verdade bastante populares, tais como "economia" mesmo, "agronomia", "agricultura", "autódromo", "sambódromo", "odontologia", "psicologia", "psicopata", "horóscopo" e por aí vai. Perceba que não se trata de uma combinação de palavras propriamente ditas, como acontece com "surdo-mudo" ou "pula-pula ", mas de uma operação de composição envolvendo pelo menos um elemento que não ocorre autonomamente em frases, ou seja, um elemento que, na verdade, não têm estatuto de palavra no português.

Vale a pena, portanto, conhecer algumas das raízes de composição mais produtivas, especialmente para conhecer sua aplicação e significado tanto em palavras consagradas quanto nos freqüentes neologismos (palavras "inventadas") que essas raízes possibilitam a qualquer falante do português, inclusive você. Ou seja: simplesmente saber que palavras como "economia" são compostas não passa de mera curiosidade para a maioria das pessoas. Nesse caso, o importante mesmo é identificar suas raízes, conhecê-las e saber manipulá-las; e muitos o fazem sem perceber ou classificar as palavras assim compostas como efetivamente "compostas".

Devido exatamente ao fato de envolverem algumas raízes que raramente aparecem em palavras simples do português, os compostos eruditos não são normalmente percebidos como resultado de uma combinação de palavras independentes, sendo as raízes de composição freqüentemente confundidas com prefixos e sufixos. É por isso que esses compostos dificilmente causam as dúvidas comumente associadas à classe em geral, quais sejam:

  1. de flexão ("palavras-chave" ou "palavras-chaves"?);
  2. de grafia ("passatempo" ou "passa-tempo"?);
  3. de se, afinal de contas, estamos lidando com um composto mesmo ou apenas um grupo de palavras autônomas ("fim de semana" ou "*fim-de-semana"?).

Por conta dessa diferença fundamental, não trataremos mais dos compostos eruditos especificamente, mas somente daqueles que naturalmente permitam pensar na combinação de duas ou mais palavras mais simples do português.

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